domingo, 18 de julho de 2010

Blog de Ademir Damião: Fazer política?

Blog de Ademir Damião: Fazer política?

Fazer política?


“Eu odeio política”, certamente você já ouviu esta frase em algum lugar (ou quem sabe, você já tenha falado), pela qual se expressa o sentimento de algumas pessoas com referência aos partidos políticos e parlamentares, de modo geral, principalmente, em momentos como o atual, quando se inicia a campanha eleitoral.
Mas, será que sabemos realmente o que é “fazer política”? Qual a importância de “fazer política” na vida de cada um (a) de nós e para coletividade?
Historicamente, verificamos que as elites brasileiras sempre procuraram passar a idéia que política era algo que só deveria ser feita por um grupo reduzido da sociedade, que eram os homens brancos e ricos, não permitindo a participação das mulheres e dos trabalhadores de modo geral no debate das questões da sociedade.
Com tal propósito, buscavam afastar a classe trabalhadora de qualquer discussão dos problemas que atingiam seu dia a dia, mantendo um processo de dominação e exploração, criando mecanismos que dificultassem a organização política dos trabalhadores e trabalhadoras e de outros segmentos sociais.
Ciente da importância de sua organização para mudar o rumo de sua história, a classe trabalhadora vem ultrapassando diversas barreiras ao longo do tempo e vem buscando encontrar saídas para seus problemas, combatendo as armadilhas implantadas pelas elites, mostrando que a política é um ato permanente, presente em qualquer ação que se queira realizar.
Verificamos que as mulheres, como outros grupos sociais, também vem mostrando a importância da presença no debate das questões que as atingem, construindo e implantando proposições para um mundo mais justo, decorrentes do envolvimento político nas diversas esferas da sociedade.
Como reflexão, seria interessante pensar o que seria deste país, se os agrupamentos excluídos do debate político pelas elites brasileiras (trabalhadores e trabalhadoras, mulheres, negros, entre outros) não vencessem as barreiras que os impediam do debate político, como estaríamos vivendo atualmente?
Compreendo que os fatos acima mostram a importância de “fazer política”, que é bem mais do que o ato de votar e ser votado, ressaltando que avalio que a participação política partidária e no período eleitoral são importantes para a sociedade.
Como em qualquer ação, estamos sempre tomando uma decisão e fazendo uma opção, que interfere nossa vida, entendo que ao tomar esta decisão, estamos fazendo um ato político, escolhendo um lado em detrimento de outro lado, seja na família, trabalho, escola e na sociedade como toda.
Segundo Aristóteles: “O homem é um animal político”, já indicando, naquela época, que a política é inerente ao ser humano, que vive permanentemente tomando decisões políticas, como por exemplo, o ato de sindicalizar-se, economizar energia, estudar para determinada prova ou concurso, dar uma desculpa para não ir ao trabalho, participar das tarefas domésticas.

Entendo que se “faz política” até ao se declarar neutro em determinado assunto, pois, neste caso a omissão favorece o lado mais forte no embate, o que, geralmente, possibilita que as injustiças continuem imperando entre nós, favorecendo as elites dominantes.
Finalizando, ressalto que o envolvimento político de cada pessoa nos diversos espaços sociais proporcionará que possamos realmente construir uma sociedade mais justa e igualitária, aonde os direitos e oportunidades serão realmente democratizados, possibilitando uma qualidade de vida melhor para cada ser humano.

domingo, 4 de julho de 2010

Blog de Ademir Damião: A Copa e o amor à Pátria

Blog de Ademir Damião: A Copa e o amor à Pátria

A Copa e o amor à Pátria

Na época que participei do grupo jovem da Paróquia do Bairro de Campo Grande (Recife), ouvi um sermão na Semana da Pátria, no qual o padre falava sobre patriotismo e, na ocasião, ele contou a história de um marinheiro que ao ver o navio se afundando, procurou salvar a bandeira do País, sendo, posteriormente, homenageado como um “herói nacional”.
Em sua homília, o padre procurou mostrar que aquele marinheiro precisava ser informado sobre o verdadeiro sentido de Pátria, que não se encontraria resumido em uma bandeira ou em qualquer outro símbolo e, sim, na situação que vive a maioria do povo, que deveria ter condições para viver de forma satisfatória.
Lembrei-me do sermão, após a derrota da seleção brasileira para holandesa na Copa da África do Sul, quando vi pela televisão muitas pessoas chorando copiosamente com a nossa desclassificação no Mundial, como se o Brasil tivesse passando por uma catástrofe insuperável, o que de fato não aconteceu.
Compreendo que o amor à Pátria não se resume só em sofrer com uma desclassificação na Copa do Mundo, mas, necessita ser construído no dia a dia, aonde há necessidade do envolvimento no combate das mazelas aqui existentes, decorrentes de uma sociedade cujo alicerce é a exploração capitalista, a qual leva a formação de grupos de incluídos e excluídos sociais.
Verifica-se que a mídia enaltece um patriotismo exagerado no período de competições, como na Copa do Mundo, levando parte da população a tomarem atitudes emocionais, não vistas em assuntos de maior relevância, possibilitando que muitos problemas se perpetuem historicamente entre nós.
Logicamente que aqui não estou defendendo que não se deva torcer pela seleção brasileira, porém compreendo que se torna necessário ultrapassar o ufanismo que “somos sempre insuperáveis”, o que não condiz com a realidade em muitas ocasiões, como na Copa da África do Sul, levando parte da população ao desânimo e decepção em casos de derrotas.
É preciso lembrar que a idéia da “Pátria sobre chuteiras” vem do período autoritário, aonde se buscava utilizar o futebol para esconder os problemas enfrentados pelo povo, incluindo a perseguição aos opositores do sistema e tentando passar a imagem de que o Brasil era um país forte e unido, que vivia em um “mar de rosas”.
Caso a mobilização observada nos dias de jogo da seleção brasileira, inclusive com grande quantidade de pessoas vestindo verde e amarelo, ocorresse em outros momentos, muitas questões deste País já teriam tido, há muito tempo, outros encaminhamentos e, certamente, estaríamos vivendo em um país com melhor qualidade de vida, pois no dia a dia, se vê que muitas pessoas aguardam soluções dos governantes, naquilo que a sociedade deveria buscar realizar através de sua própria organização para mudar a realidade que vivemos.
A mobilização e disponibilidade popular vistas no período de mundiais não correm, por exemplo, de forma semelhante para as ações desenvolvidas por sindicatos e movimentos sociais, dificultando o processo de organização social na busca de alternativas sustentáveis para uma sociedade mais justa e fraterna nos aspectos social, econômico, ambiental, político, entre outros.
Entendo que a mobilização popular é fundamental para que consigamos superar definitivamente os problemas que nos afligem e cujas soluções só se viabilizará com o envolvimento da população, buscando garantir a construção de um processo democrático, que não se restringe ao direito de votar e ser votado no período eleitoral, mas deve possibilitar a existência de canais efetivos de participação nas diversas esferas de governo.
Diante deste quadro, compreendo que cabe a cada um ou uma de nós dá sua contribuição para que seja ampliado o grau de participação das demais pessoas nas questões que permeiam a nossa vida, mostrando que se é importante demonstrar o amor à Pátria no período de Copa do Mundo, mas importante ainda é se envolver na transformação da sociedade brasileira ultrapassando as barreiras que impedem a igualdade de direitos e oportunidades para todos.