sábado, 3 de outubro de 2015

Blog de Ademir Damião: Intolerância: risco para democracia...

Blog de Ademir Damião: Intolerância: risco para democracia...

Intolerância: risco para democracia...

Em uma propaganda antiga de determinada marca de tinta, um locutor perguntava: “O que seria do azul se todos gostassem do amarelo?” , e apesar do apelo comercial, tal pergunta contribui com uma reflexão fundamental nos dias de hoje no seio da sociedade brasileira: “Que sociedade seria construída se as pessoas tivessem as mesmas ideias e os mesmos objetivos?”
Naturalmente a indagação acima não poderá ser respondida na prática, pois a sociedade brasileira, acima como a mundial, é plural e diversificada, havendo variados processos de comportamentos e opiniões conforme as características e opções das pessoas, constituindo-se  um mosaico social enriquecido pelas interfaces decorrentes das trocas de mútuos relacionamentos.
Neste contexto, as pessoas buscam ocupar espaços e consolidar  seus pensamentos que, em algumas oportunidades, são opostos de outros indivíduos, havendo a necessidade da definição dos rumos da sociedade, cuja decisão deveria se basear na garantia de ganhos e perdas que evitasse o aceleramento de conflitos, porém tal situação não ocorre no dia a dia, culminando com tentativas da destruição das  ideias contrárias a certos grupos ou pessoas.
Vive-se, então,  um momento no Brasil (e em todo mundo)  que é fundamental analisar a forma de defesa individual ou coletiva de algumas ideias, que são carregadas de atitudes intolerantes, não se aceitando o contraditório tão importante no âmbito da pluralidade e diversidade da sociedade,  chegando até a atos violentos e agressões físicas.
Esta situação alarmante demonstra que, na realidade, algumas pessoas e organizações tentam impor suas ideias autoritariamente, querendo impedir qualquer forma visão diferenciada seja apresentada, ou seja, não aceitam que ocorra um debate que possibilite condições para o convencimento de outros segmentos sociais.
A intolerância no Brasil vem se tornando preocupante, pois além de ser observada nas diversas esferas de relacionamento, vem se expandindo em todas classes sociais, bem como é uma prática usual de pessoas em diversas faixas etárias, incluindo crianças e adolescentes que recebem “educação” de adultos (tanto no âmbito da família como na escola) voltada para não aceitar e combater tudo que foge aos padrões estabelecidos no meio de suas convivências.
O processo ainda incipiente de reconstrução da democracia brasileira decorrente do fim do regime militar necessita combater qualquer ato de intolerância para sua verdadeira consolidação, o que se encontra condicionada a superação de barreiras como preconceito social, religioso, machismo, homofobia, racismo e outras que  atingem diariamente o país.
É importante observar que além da família e escola, outro agente multiplicador de ideologias de intolerância são os meios de comunicações sociais ao divulgarem ideias preconceituosas sem autocrítica, se escondendo na “liberdade de imprensa” e no “direito de expressão”, o que pode ser notado em noticiários sobre a violência, programas de auditório, novelas e debates.
O atual momento político brasileiro vem aumentando  o grau de intolerância na sociedade, já  que as concepções políticas partidárias são defendidas sem manutenção de um mínimo de respeito nas relações, criando riscos sérios para a democracia brasileira, não havendo reconhecimento de ações e propostas positivas em grupos adversários.
A constituição urgente de canais de tolerância irá possibilitar a reversão do quadro descrito anteriormente, aceitando-se que as diferenças de opções de possam conviver em todas esferas sociais sem que ocorra atitudes de preconceitos de qualquer espécie, dando valiosa contribuição para o fortalecimento democrático do país.
Apesar da existência de legislações punitivas as ações de discriminação, verifica-se que a mudança de posturas intolerantes só irá ocorrer paulatinamente através de um processo educativo que busque envolver todos segmentos sociais e até tal momento, caberá a cada pessoa preocupada com a atual situação denunciar e combater qualquer ação preconceituosa.